
Querida Ilha do Valha!
Hoje é dia 29.09.2021. É o grande dia que tu celebras com esplendor a inauguração da tua Biblioteca Profa. Edite Bruce.
É o dia de celebrar a cultura!
Aquele lado íntimo, tentou-me a te tratar por tu, mesmo eu sabendo que és a grande dama.
Aqui passei férias e ouvi desde cedo falar de ti através da minha mãe e tios.
Hoje tu tens a tua Biblioteca!
Já repeti hoje a mesma frase e não fiquei cansada. Sabes o motivo?
Porque a cultura encanta. A cultura afina os espíritos.
E era ssim que a tua homenageada fazia: lutava desde cedo para alfabetizar os parentes e os filhos dos moradores da Ilha que fica perto do Amazonas.
Tu viste que a solidariedade de diversos lugares do nosso Brasil moveu uma montanha de livros para chegar até à tua porta e tu os abraçaste. Colocaste os livros em teu colo e atravessaste o teu deserto na seca dos rios.
E de repente, tiveste que fazer um berço para os livros para protegê-los da enchente de 2021.
Ah! Teu rosto não é mais o mesmo!
Passaste ao longo das últimas décadas por transformações morfológicas.
Mas tu és a Ilha do Valha.
A Ilha que é cercada por búfalos e guarda no ar o cheiro da juta secando nos varais.
E como presente para tua festa, Carsten, as crianças e a equipe do Projeto Ratos de Biblioteca te ofertam a belíssima
poesia, Tecendo a manhã, de João
Cabral de Melo Neto.
Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto
1
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(In: A educação pela pedra)